No mercado segurador, a confiabilidade dos dados é fator decisivo para o funcionamento do negócio e para o cumprimento das exigências regulatórias. Informações sobre segurados, apólices, sinistros, prêmios e riscos alimentam processos internos críticos e sustentam relatórios que precisam atender aos padrões estabelecidos por órgãos regulatórios.
O grande desafio está em registrar todos esses elementos de forma consistente, garantindo que cada informação esteja corretamente conectada ao seu contexto e ao momento em que ocorreu. Um sinistro, por exemplo, só faz sentido quando vinculado a uma apólice vigente, que por sua vez está associada a um segurado e a um corretor. Já os prêmios e riscos se entrelaçam a toda essa cadeia, variando ao longo do tempo e exigindo registros precisos para manter a rastreabilidade. Para que esse ecossistema funcione de maneira confiável, é essencial que as regras que definem esses vínculos sejam claras e aplicadas de forma uniforme. É justamente nesse ponto que a governança de dados assume papel estratégico, assegurando eficiência operacional, integridade da informação e aderência às normas regulatórias.
Garantir a qualidade e a consistência dos dados, entretanto, não depende apenas de tecnologia: requer também a definição de papéis e responsabilidades claras dentro da organização. É nesse ponto que se destaca a figura do data steward, profissional que atua como guardião dos dados, garantindo que sejam tratados como um ativo corporativo, preservando sua qualidade, integridade e conformidade em todas as etapas do ciclo de vida.
Desafios Específicos da Gestão de Dados no Setor de Seguros
As seguradoras lidam com um ecossistema de informações altamente complexo. Além do grande volume de dados gerados diariamente, é comum a coexistência de sistemas legados com novas plataformas digitais, o que dificulta a padronização e a integração das informações.
Esse cenário se torna ainda mais desafiador em processos de aquisição de empresas ou de carteiras de seguros, prática recorrente no setor. Nesses casos, a seguradora adquirente precisa incorporar dados provenientes de diferentes fontes, muitas vezes estruturados de forma heterogênea, e garantir que eles passem a seguir as regras, padrões e taxonomias da nova organização. Isso exige não apenas mapeamento técnico, mas também a definição de políticas claras para tratar divergências, lacunas ou inconsistências herdadas.
Outro fator relevante é o ambiente regulatório. Exigências como o SRO da SUSEP, a LGPD e iniciativas como o Open Insurance obrigam as seguradoras a garantirem consistência, transparência e segurança na gestão de dados. Não atender a essas normas pode resultar em penalidades severas, além de comprometer a credibilidade da instituição perante clientes e parceiros.
Nesse contexto, a governança de dados precisa ir além da organização interna: ela deve criar processos e mecanismos que permitam rastrear cada informação, compreender sua origem, garantir sua integridade e disponibilizá-la de forma confiável quando necessário.
O Papel Estratégico do Data Steward
No contexto de tantos desafios, o data steward surge como um ator essencial dentro da estratégia de governança de dados. Sua função não se limita à execução de tarefas técnicas, mas envolve garantir que os dados sejam tratados como um verdadeiro ativo corporativo, com valor estratégico para a seguradora.
O papel desse profissional é atuar como guardião da informação, estabelecendo práticas que assegurem a qualidade, a consistência e a conformidade dos registros. Isso inclui desde a definição de padrões para cadastros de segurados, corretores e apólices até a validação de informações críticas para relatórios regulatórios. Mais do que manter bases de dados “saneadas”, o data steward garante que cada informação esteja corretamente contextualizada, com vínculos claros e rastreabilidade ao longo do tempo.
Outro ponto fundamental é sua capacidade de atuar como ponte entre áreas de negócio, tecnologia e compliance. Ao traduzir necessidades regulatórias e estratégicas em processos práticos de gestão de dados, o data steward ajuda a reduzir riscos, evita retrabalhos e fortalece a confiabilidade da informação. Sua atuação é contínua e preventiva, garantindo que os dados estejam sempre preparados para sustentar tanto as operações do dia a dia quanto iniciativas de inovação.
A seguir um resumo das suas principais atribuições:
Assegurar qualidade dos dados:
Detectar inconsistências, duplicidades ou lacunas em registros críticos.
Garantir conformidade regulatória:
Assegurar que os dados atendam às normas da SUSEP, da LGPD e de outras regulamentações aplicáveis.
Promover padronização:
Uniformizar cadastros de segurados, corretores, apólices e sinistros, reduzindo divergências entre sistemas.
Intermediar áreas de negócio e TI:
Traduzir necessidades das áreas regulatórias, jurídicas e de negócio em requisitos claros para a gestão de dados.
Acompanhar indicadores de qualidade:
Propor melhorias contínuas para elevar o nível de confiabilidade da informação.
Benefícios da Atuação do Data Steward
A presença de um data steward dentro da seguradora gera impactos diretos e mensuráveis. Ao estruturar processos de qualidade e rastreabilidade da informação, esse profissional contribui não apenas para reduzir riscos, mas também para aumentar a eficiência e preparar a empresa para evoluções regulatórias e tecnológicas.
Um dos principais benefícios é a redução de falhas em auditorias regulatórias. Relatórios enviados à SUSEP, por exemplo, dependem de informações consistentes sobre prêmios, sinistros e provisões técnicas. Dados incorretos ou incompletos podem gerar questionamentos, atrasos ou até penalidades. O data steward atua de forma preventiva, garantindo que os registros estejam íntegros antes mesmo de sua consolidação em relatórios oficiais.
Além disso, a atuação desse profissional contribui para a eficiência operacional. Inconsistências em cadastros de segurados ou duplicidade em registros de corretores, por exemplo, geram retrabalhos e podem comprometer análises de risco. Ao garantir padronização e consistência, o data steward permite que processos de negócio fluam de forma mais ágil e confiável.
Por fim, há o ganho estratégico: dados de qualidade tornam-se base para inovação. Modelos de precificação mais precisos, uso de inteligência artificial para análise de risco ou ofertas personalizadas de produtos só são possíveis quando a informação está organizada e íntegra. Assim, o papel do data steward transcende a conformidade regulatória e se torna um pilar para a transformação digital das seguradoras.
Conclusão
A gestão de dados no mercado segurador vai muito além de um requisito operacional: trata-se de um diferencial estratégico. Em um setor marcado por regulações rigorosas, grande volume de informações e frequentes processos de integração de carteiras e empresas, garantir a qualidade e a consistência dos dados é essencial para a sustentabilidade do negócio.
Nesse cenário, o data steward tem um papel de destaque como peça-chave da governança de dados. Ao assegurar a integridade, a padronização e a conformidade das informações, esse profissional contribui para reduzir riscos, fortalecer a confiabilidade e criar as bases necessárias para inovação e competitividade.
Mais do que atender às exigências regulatórias, a atuação do data steward possibilita que seguradoras transformem seus dados em ativos estratégicos, capazes de gerar valor para clientes, parceiros e reguladores. Em um mercado cada vez mais digital e interconectado, investir nesse papel significa garantir não apenas eficiência no presente, mas também preparação sólida para os desafios futuros.
A add está preparada para apoiar seguradoras nessa jornada, auxiliando na estruturação da governança de dados e na montagem de equipes lideradas por data stewards. Com experiência no setor e conhecimento regulatório, podemos ajudar a transformar o dado em um ativo estratégico, sustentando tanto a conformidade quanto a inovação.
Autor: Ricardo Brandão – Head de projetos da add
